quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Não vá embora

Você sabe qual o gosto do cotidiano?
Hoje eu o mastiguei até o último grão - ampulheta do tempo -
Não falei uma palavra, voz minha não se ouviu
Não sorri, nem me abri
Porque há momentos - cada vez mais frequentes - que preciso ser só minha
E descobri que, enquanto muitos a culpam, eu preciso viver dela:
SAUDADE
De(u) vontade
De distância
De ignorância
Pra não me deixar levar
Pra não estar, sempre, lá
Onde todo mundo está
Até que ponto devemos ser nós mesmos?
Quanto podemos quando sabemos que o ar que devolvemos fica irrespirável aos outros?
A gente se mutila e se reveste ou rasga a máscara bem ali, no centro do palco da vida?
Nem sei porque lanço perguntas de respostas inalteradas - pra mim, erradas ou não, são minha forma de expressão... meu pedido de socorro...
Poucos sabem, mas quando mais me calo, mais ouço, dentro de mim, um grito por voz e vez... uma, duas ou três... são um coro ecoando poro à poro e sinto até a pele romper-se, parindo o melhor de mim, enquanto o veneno vai-se esvaindo nos recortes dos azulejos brancos de impurezas...
Sei, apenas, que hoje ao passar por cada porta e janela e sentir aquele cheiro de almoço à mesa no meio "do" dia das famílias, senti uma vontade que nada tinha a ver com saudade, de sair por aí e fugir de tudo que se faz todos os dias nas mesmas horas.
Porque eu odeio isso e quando não posso mudar as coisas de lugar eu me odeio.
Preciso viver da dor de perder... de não ter... pra saber o quanto foi bom ter tido.
Aquele gosto de viver bem na tristeza, por já ter provado a felicidade.
Quero poder, amanhã, sentada em um banco qualquer, sentir vontade de agarrar esse momento em que escrevo, com saudades desse cheiro peculiar de casa e barra de saia de mãe, porque colo, eu nunca tive.
Deve ser por isso que gosto tanto das quatro estações do ano... tudo deveria ser assim... Ciclos que nos permitissem não odiar, tão fortemente, tudo que insiste em se repetir... do velho bom dia a todas as demais manias de quem não desiste de nunca partir.

***
To (de) partida e sem saída...

***

Gui, no meu S2, só dá você!
Ana, quando leio o que você escreve, imagino sua voz, nunca (h)ouvi nada mais doce e gracioso...

by Troiana22

Um comentário:

  1. Eu só estava com saudade de ver como essa garota escreve bem!

    E sinto saudade de não ter nada para fazer! Era tão bom quando isso "existia".

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Abertamente falarás, abertamente o ouvirei