quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Devorar você

Não há uma ilesa parte do seu corpo que não doa, ela tem se mutilado dentro desses quadrados espaços que nos possuem, entre as horas que a cortam em meio a esse tempo que a vira do avesso e a reveste dessa tinta cínica, que dá alergias.
Sente-se sufocada, o ar escorreu pernas a baixo, virou pó...
O sangue parece ter parado em suas veias, ela inflou como balão de gás, preso ao espaço, louco pra se soltar, pronto pra voar...
Ela clama aos prantos, mendiga descanso... Mas, tudo é puro silêncio aqui, ali... Ninguém encara seu olhar, poucos querem encontrar o que há por baixo dessa pele e os que tentam, sabe-se lá dos motivos, se o tiverem, não a ferem.
Aquela cena estranha volta a rondá-la: caminhando sozinha uma mão toca a sua, faz companhia a essa solidão “alastrante” feito daninhas entre o limpo gramado.
Faz planos loucos de rasgar as roupas, cortar as poucas apologias à tudo que a faz tão, vulgarmente, igual aos outros tantos reles mortais – desejos, sonhos, ganâncias, invejas, consumos, dietas – ser mais do que um a mais, ser um a menos ou ser a metade do que se é, a terça parte do que merece ser.
Ela precisa de uma vara de condão, jogar-se ao chão e quebrar o encanto, a livraria de tanto tormento, que a persegue noite a “dentro e fora” ela quem assim o fez. Trancafiado em seu subconsciente ele volta nas mesmas horas, nas vinte e quatro que seguem a penumbra do sol se formar. Sem pedir licença, atravessa seu corpo e olhar, como uma nuvem de fumaça se vai com o vento de um sopro do dia, antes mesmo de amanhecer.
Então, exorcizar é a saída, a medida é rasgar esse corpo de fora a fora, jogar por hora, todo o lixo fora, limpar as entranhas, ligar as estranhas partes que deixaram de funcionar. Abastecê-la de líquidos, ela está torrando exposta aos raios do amor, está queimando em contato com essa pedra de gelo que agora es. Líquidos que a façam chorar e curar de todo as cicatrizes da abstinência.
Irremediavelmente é pela cura que ela tem esperado, enquanto se tranca nesses quadrados existenciais.
E ao nascer da vida ela toca seu corpo, procura a dor, na esperança de não mais encontra-la...
Ao apalpá-la com suas mãos, ela se manifesta, arde por cada cubículo, anda pelos corredores, se esparrama pelas bases, assenta-se ali, próximo ao coração, a cada batida, a ferida dá sinais de que tão cedo a morte não chegará. O atraso faz pouco caso de seus murmúrios.
Veste-se, nada rasgado, reveste-se, nada cortado, das impurezas do mundo, ela volta a ser uma a mais, nem menos, nem vais pensar que ela foi vencida, cada piscar de olhos é uma tentativa de sobrevivência. Um apelo ao encerramento do espetáculo, um cerrar definitivo desses olhos.
O mundo encara, sem nenhuma tara de ser o que é. Sem o mínimo espanto da dor que atinge a ilesa mentira que se tornou.


Ganhei o selo da Guiga, mas hoje amiga, o dia acordou cinza, só pra combinar com a cor de tudo que restou...
Te amo...

miCA

3 comentários:

  1. Hi,
    All designs are looking very nice and with good color combinations.

    ===================================
    Girjesh
    look4word

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  2. Que lindo e triste...eu espero que volte logo todas as cores que as alegrias trazem...

    TE AMO!

    Vou aí pintar um arco-íris na sua janela.

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  3. ^^
    agora eu posso comentar aqui!
    digo denovo: terminei de ler o texto com um sorriso no rosto e uma pontinha de lagrimas nos olhos.
    =*

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Abertamente falarás, abertamente o ouvirei